Questionar o cotidiano, o normal, o aceitável. É o que sugere Octávio Paz no texto "A dialética da Solidão". O autor apresenta a condição humana como natural, estar solitário, sentir-se solitário vem com o homem e vai-se com ele "Todos os homens, em algum momento da vida, sentem-se sozinhos". A percepção do próximo e de si mesmo, o homem, em sua solidão se descobre e passa a criar um novo sentimento; o amor.
A criação do amor, segundo Paz, dá-se como forma de realização própria no outro. Algo não natural, criado pelo homem como tentativa de afastar a solidão, porém o mesmo deve aceitar que a vida, logo de inicio, é solitária. Para ilustrar a afirmativa, Octávio descreve o nascimento, a ruptura do cordão, que antes ligava o filho e a mãe, como a primeira solidão do homem. "Nascemos sozinhos e morremos sozinhos". Para o autor a morte é mais uma experiência de solidão, a sociedade está condenada a desconhecida e temida solidão. "Mais do que a viver, a vida nos ensina a morrer"
A falsa liberdade no amor, a mera sensação de poder escolher a quem amar, tudo isso está sendo subjugado, as leis, a moral e até mesmo as classes sociais, moldam quem cada homem irá amar. Conforme o que diz, o autor revela que o amor não é livre, que o homem não pode escolher a quem amar. Em visão masculina, Octavio Paz descreve a mulher como um objeto para o homem, que ao ganhar as qualidades que convém, torna-se o instrumento, algo precioso, o complemento, a forma de afastar a solidão. Porém, a mulher nunca é ela mesma, está predestinada a moldar-se conforme a sociedade, as leis, a moral e ao desejo dos homens. Nesta conjuntura, conclui que, a mulher só pode escolher quando rompe consigo mesma.
Mas não é somente a imagem e o ser feminino que está condenado à não escolha de quem amar, o homem é também condicionado a escolher o que lhe convém, o que lhe trará melhores resultados. O homem que não se sujeita a lutar contra as regras e posicionamentos sociais, estará sujeito a viver quem sabe para a vida toda com uma mulher que se quer chegou a amar.
Desta forma o autor inicia uma reflexão sobre o casamento, forma jurídica de afastar a solidão. Segundo Octavio, o casamento seria mais uma maneira de reprimir o verdadeiro amor, a não existência do casamento seria então a forma real de liberdade à busca do amor. O divórcio então seria banal, existiria diante da condição de desaparecimento do amor. Mas a sociedade torna o amor anti-social, não permite a livre escolha.
Mas não é apenas no amor que Paz identifica formas de afastamento da solidão, dá-se inicio a avaliação da vida do homem em sua completude. Quando criança, o homem desenvolve uma interação com seus brinquedos e seguindo sua imaginação, cria um mundo próprio que atende as suas necessidades e afasta sua solidão, com o passar dos anos, a criança cresce e passa a questionar seu mundo e a existência do mesmo, ao chegar a adolescência a solidão é maior, ocorre a ruptura com a infância, com a magia criada para afastar a solidão. o adolescente quer a solidão, precisa da mesma para o auto-conhecimento, para formular novos questionamentos. Mesmo assim encontra meios de distanciar-se da completa solidão. Surgem assim às tribos, os casais de jovens namorados, os grupos de amigos reunidos. "O adolescente se abre para o mundo: para o amor, para ação, para amizade, para o esporte, para o heroísmo."
Na vida adulta, o homem se vê mais uma vez solitário, esquece de si, não há a entrega verdadeira ou inteira para nenhum fim. Não há mais a necessidade da busca pelo outro, passa a viver para o trabalho, sempre a espreitar de si. Deste modo, o autor explica a duplicidade de significado desta solidão, “Ruptura com um mundo e tentativa de criar outro”. (2006 p.184)
Tomando agora como ponto de partida de sua reflexão o homem primitivo, Octávio revela que desde o surgimento da raça humana, o homem é solitário e a “Dialética da solidão” aplica-se a todos os povos. O homem primitivo via a necessidade de estar em grupo, vive em meio a uma “comunidade”, o solitário era afastado do grupo, como forma de ameaça. Paz aponta o pecado como principal aliado da solidão, o abandono e o desamparo, devem-se por meio destes, que nem mesmo a atual sociedade está livre.
O que diferencia o homem primitivo do homem atual é a forma como é posta sua solidão, hoje o falso amparo da mesma provinda das relações sociais, que em tempos o homem aposta em mistificá-la, mas esta está sujeita a diversas alterações e pode vir a dispersar-se; religião, guerra, alterações no sistema de funcionamento da sociedade, ideologias e outros, batem de frente com esta concepção de que as relações sociais seriam de fato um modo de amparar a solidão.
No texto ainda pode-se identificar mais argumentos utilizados pelo autor para induzir o questionamento social sobre a própria existência e sua significância. A criação do tempo mítico, exemplificado pelo feriado, que marca uma data especifica, um fato importante, que com o decorrer dos anos, décadas e séculos, passa a re-existir quando projetado na atualidade. O mito, tentativa de explicar e tornar acessível, questões ainda não resolvidas – assim como “de onde vimos, para onde vamos?” – será eternamente recriado pelo homem, o mesmo estará então somente criando novas formas de romper com o mundo e encontrar-se em si.
Texto analisado : A Dialética da Solidão - Octávio Paz (2006 - O Labirinto da Solidão)
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O homem solitário.
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obrigado por teres visitado o meu blog. gostei de te conhecer, espero que fiquemos ligados
ResponderExcluirJB